Depois de quase um século do surgimento do Art Déco, parece que este icônico estilo do início do século XX está voltando à moda. Como podemos observar em muitos dos novos projetos de interiores e mobiliário que estampam as páginas das principais revistas de arquitetura ao redor do mundo, é impossível não associar o glamour, o brilho e a elegância dos anos 1920 com este revivalismo tardio do Déco em pleno século XXI. Com isso em mente, seria importante refletirmos sobre a influência da estética Art Déco na arquitetura contemporânea e de que maneira esta retomada poderia transformar a maneira como nos relacionamos com um estilo que parecia esquecido no passado.
Art Déco, a forma abreviada de Arts Décorativs, foi um movimento bastante abrangente na história da arte, talvez mais fortemente identificado com as formas geométricas e arrojadas, com a elegância dos espaços interiores e materiais utilizados além da combinação entre o histórico e tradicional com o moderno e futurista na arquitetura do início do século XX. A estética Déco emergiu como um dos principais resultados da impressionante Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas realizada na cidade de Paris no ano de 1925, espalhando-se rapidamente para o resto do mundo em um momento marcado pelo surgimento de novas tecnologias e um pujante desenvolvimento econômico. Neste contexto, a estética Déco ajudou a dar forma a algumas das estruturas mais representativas da modernidade, como o Empire State Building em Nova Iorque, a Marine Drive em Mumbai ou até o colorido bairro de Miami que leva Déco em seu nome em homenagem as suas fascinantes obras de arquitetura.
Embora o contexto socioeconômico do início do século passado possa parecer muito diferente do atual momento que estamos vivendo, há uma série de semelhanças que carregam consigo um fio de esperança. O início da década de 1920 marca um momento de retomada após a passagem da devastadora gripe espanhola, uma época na qual o mundo testemunhou intensos processos migratórios além do surgimento de novas tecnologias e significativos avanços na ciência. Neste contexto, a estética Déco carregava consigo a promessa de progresso e de um futuro melhor. Até então, o design era visto como um luxo e acessível apenas a uma pequena parcela da população. A crise econômica de 1929, entretanto, forçou a industria a incorporar novos processos e materiais, simplificando formas e criando produtos mais baratos e acessíveis. Neste sentido, é evidente as semelhanças que aproximam estes dois diferentes períodos e talvez o que estejamos experimentando hoje seja este mesmo anseio por simplicidade e eficiência, e como toda tendência é cíclica, pode não ser uma idéia absurda pensarmos que o Déco pode estar novamente em voga.
Tampouco é um exagero afirmarmos que o Chrysler Building talvez seja um dos mais significativos exemplos da arquitetura Art Déco. E acontece que este icônico arranha-céu está passando atualmente por um amplo processo de reforma que não apenas pretende restaurá-lo à sua antiga glória, mas também prepará-lo para os desafios do futuro. Em Paris, em pleno coração da cidade que viu nascer o Art Déco, o BIG concluiu recentemente as obras de reforma das icônicas Galerias Lafayette, dando vida nova ao edifício do antigo banco construído em 1932, transformando-o em um moderno laboratório de vendas dedicado às principais marcas do mundo da moda. Até mesmo as principais redes de hotéis, que por décadas optaram por acabamentos e ítens de mobiliário modernistas, estão começando a incorporar influências Déco em suas versões mais luxuosas.
Fato é que o Art Déco carrega consigo uma esperança de futuro e uma dose de entusiasmo. A medida que nos aproximamos de 2022, especulando sobre as futuras tendências que poderão surgir, talvez tenhamos finalmente nos liberado do fardo da modernidade e das pós-modernidade e estejamos começando a reconhecer o verdadeiro valor do espírito deste estilo chamado Déco. Colocando em perspectiva, é chegado o momento de aprendermos a apreciar a significância e a imensa beleza desse importante movimento na história da arte, do design e da arquitetura.